• Cidade Espraiada

    28/03/2019 Categoria: Artigos

    O debate sobre fluxo migratório internacional está cada vez mais presente na agenda geopolítica, em que pese isso não ser novidade na história da humanidade. A busca por melhores perspectivas de trabalho ou a fuga de guerras e repressões internas, fazem com que homens, mulheres e crianças apostem todas as fichas na possibilidade de construir um futuro diferente do que está desenhado para suas vidas.

    A Europa Ocidental e os EUA ainda são os locais que mais atraem os migrantes, contudo, cidades fora desse eixo, como Xangai (China) e Lagos (Nigéria) quase dobraram sua população nos últimos 20 anos e ultrapassaram a barreira de 15 milhões de pessoas vivendo dentro de seus limites territoriais.

    No Brasil, os 17 municípios com mais de 1 milhão de habitantes abrigam 21,9% da população. A taxa de urbanização saltou de 20 para 90% em pouco mais de 60 anos, o que provocou um crescimento não ordenado das cidades. Esse fenômeno desencadeia uma série de reivindicações populares por mais direitos e cidadania. O transporte público coletivo sempre compõe esta pauta.

    Cidades que alvitram uma melhor qualidade de vida para seus moradores tem a mobilidade urbana como um pilar de desenvolvimento. A sustentabilidade na racionalização dos espaços públicos contribui para que isso seja possível. A ilha de Manhattan em Nova Iorque tem 30 mil habitantes por Km². Neste compasso seguem Londres, Barcelona e Paris, respectivamente com 12, 15 e 21 mil habitantes por Km².

    Alcançar esses índices não tem que ser meta de nenhum município, contudo o espraiamento urbano antes da cidade atingir uma densidade ideal, talvez seja o principal vilão da crise vivida pelo do setor de transporte público. Goiânia tem pouco mais de 2 mil habitantes por Km² e cada revisão do plano diretor ganha uma nova expansão. Alqueires e hectares se transformam em metros quadrados e os vazios urbanos que já existem somam-se a outros criados e impactam diretamente o custo da infraestrutura e indicadores sociais como segurança e saúde.

    Via de regra, o planejamento de transporte é reativo a esta política e não cumpre o seu papel de ordenador do território. Novas linhas e extensões de itinerários são concebidos para suprir a perspectiva de demanda imposta pelo mercado imobiliário. De uma vez só as viagens ficam maiores, mais caras e menos atrativas.

    A falta de priorização em vias saturadas de automóveis e a necessidade de mais transbordos em terminais de integração, impõe ao usuário do ônibus perder até 60 horas semanais em deslocamentos pendulares. Nesta disputa desonesta, a migração deste passageiro para um modo de mobilidade individual motorizado, passa a ser limitada apenas pela capacidade de endividamento de cada um.

    Estas escolhas refletem na desidratação da demanda em todo País. A Rede Metropolitana de Transporte Coletivo de Goiânia registrou queda de 37,9% nos últimos 10 anos, ao passo que a população cresceu 15% no mesmo período.

    Cidades inteligentes que usam a tecnologia em seu processo de planejamento, a universalização da informação através das redes sociais e a mecanização do trabalho no campo, fazem com que a reversão desta tendência de urbanização seja improvável.

    Cabe aos gestores e planejadores racionalizar os espaços construídos e buscar cidades mais compactas. Propostas criativas e sustentáveis para os ambientes urbanos ensejam um futuro mais próspero. O transporte público coletivo é parte indissociável deste processo. Um mundo melhor é coletivo e lá se chega de ônibus.

    Olmo Xavier – Assessor de Mobilidade Urbana do RedeMob Consórcio